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(Des)construções curriculares para a formação inicial de professores que ensinam matemática: desafios e cenários de possibilidades para (re)existir
Revista de Educação Matemática, vol. 19, e022002, 2022
Sociedade Brasileira de Educação Matemática

Editorial

Revista de Educação Matemática
Sociedade Brasileira de Educação Matemática, Brasil
ISSN: 2526-9062
ISSN-e: 1676-8868
Periodicidade: Cuatrimestral
vol. 19, e022002, 2022


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Resumo: O que mobilizou a comunidade de educadores matemáticos a propor para a sessão denominada “Trabalho encomendado”, da 40.ª Reunião da Anped realizada em 2021, foram as investidas de desconstrução que a Educação do nosso país tem sofrido nos últimos anos. Tais movimentos têm sido percebidos por meio da instabilidade na gestão da pasta do MEC, nos ataques públicos aos professores, mas também com reiteradas propostas de reformas que tentam veladamente desqualificar a educação pública em seus diferentes níveis.

O que mobilizou a comunidade de educadores matemáticos a propor para a sessão denominada “Trabalho encomendado”, da 40.ª Reunião da Anped realizada em 2021, foram as investidas de desconstrução que a Educação do nosso país tem sofrido nos últimos anos. Tais movimentos têm sido percebidos por meio da instabilidade na gestão da pasta do MEC, nos ataques públicos aos professores, mas também com reiteradas propostas de reformas que tentam veladamente desqualificar a educação pública em seus diferentes níveis.

O interesse que congregou os textos reunidos neste dossiê iniciou-se no interior do Grupo de Trabalho Educação Matemática (GT-19), que, tradicionalmente, discute sobre o tema do trabalho encomendado na reunião anterior e, depois, continua o debate em discussões por e-mail em período que antecede a reunião nacional. Assim, em 2021 e após ampla divulgação na comunidade, os textos submetidos foram avaliados pela coordenação do GT-19 e encaminhados às responsáveis pela articulação dos textos. Para a tarefa de estabelecer um diálogo entre os textos, foram convidadas pela coordenação do GT-19 as professoras Márcia Cyrino (UEL) e Regina Grando (UFSC).

Ressaltamos que a escolha do tema coincidiu com o impacto da aprovação da Resolução CNE/CP n.º 02, de 20/12/2019, que determinou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC – Formação). Sem qualquer consulta às sociedades científicas ou às instituições formadoras de professores, o CNE, ao apresentar um documento que despreza estudos e pesquisas que há tempo apontam as demandas da formação de professores em diferentes áreas do conhecimento, desrespeitou a escola e os docentes.

Os textos deste dossiê foram elaborados por pesquisadores que vêm discutindo, em suas pesquisas e em suas ações docentes, a perspectiva da valorização e da manutenção de uma Educação pública, gratuita e de qualidade para todos, e que respeita a diversidade e a democracia. Na coordenação do GT-19 nessa ocasião, assumimos o compromisso de organizar esta edição da REMat/SP, na expectativa de que estes textos deem a conhecer as pesquisas, as concepções e as reflexões dos autores a respeito da temática.

O dossiê se apresenta com nove textos, oito de autores e autoras participantes do “Trabalho Encomendado” e um texto integrador, de autoria de Márcia Cyrino e Regina Grando, que conduziram o debate durante as atividades do GT-19 na 20.ª Reunião da Anped. No texto integrador, intitulado “(Des)construção curricular necessária: resistir, (re)existir, possibilidades insubordinadas criativamente”, além da articulação dos demais textos, o leitor encontrará uma discussão atual e extremamente relevante a respeito dos impactos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e da Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC – Formação) e de possíveis formas de resistência.

O texto intitulado “Uma virada vital-praxiológica na formação indisciplinar de educadores”, de autoria de Antonio Miguel (UNICAMP), Carolina Tamayo (UFMG), Elizabeth Gomes Souza (UFPA) e Alexandrina Monteiro (UNICAMP), apresenta, com base nas ideias do filósofo Wittgenstein, uma imagem de matemáticaS possível para a desconstrução de “discursos colonialistas que as veem como um saber unitário, universal, lógico-formal, abstrato e neutro a ditar normas deterministas para o mundo vital-praxiológico” e exemplificam uma prática cultural. Em defesa da existência de diferentes matemáticas praticadas em diferentes campos de atividade humana, consenso entre educadores matemáticos, em contraposição a uma visão universal, abstrata, essencialista e lógico-formal-fundamentalista da Matemática, comum na visão dos matemáticos, os autores estimulam o debate em torno de uma virada vital-praxiológica na formação de educadores, convidando-nos a desconstruir discursos colonizadores relativos à matemática e à educação matemática escolar, deslocando o nosso olhar “para os modos como práticas culturais normativas se realizam e se inventam em diferentes formas de vida [...] ”.

O texto de Adair Mendes Nacarato – Universidade São Francisco – e Kátia Gabriela Moreira, SME Campinas, intitulado “A formação compartilhada do futuro professor que ensinará matemática: contrapontos à BNC-Formação”, mostra como é possível resistir e reexistir quando parcerias colaborativas entre formadora do curso de Pedagogia e professora dos anos iniciais são efetivadas. As autoras indicam como “futuros professores se apropriaram de alguns princípios que nortearam as práticas das formadoras e construíram consciência de que a formação não se esgota na graduação e requer um repertório de saberes para o exercício da docência visando tornar a matemática acessível e prazerosa a todos os alunos”. O texto das autoras segue em defesa do reconhecimento não apenas do protagonismo dos professores como produtores de saberes, mas também da importância de valorizar ações integradas da formação inicial com a continuada e de articular a formação com a carreira docente.

“As contribuições à compreensão dos saberes dos estudantes para a formação de professores da EJA: palavra falada, diálogo e escuta freireanos” são expressas por Adriano Vargas Freitas (UFF), Francisco Josimar Ricardo Xavier (UFF) e Júlio César de Moura Dias (PM Macaé, RJ). Nesse texto discute-se como “a escuta dos saberes dos jovens, adultos e idosos pode contribuir para a formação dos professores que envolvam construções de práticas curriculares mais próximas das realidades da Educação de Jovens e Adultos (EJA)” e que foram praticamente esquecidas nas Diretrizes propostas. O texto evoca o respeito, a valorização e o reconhecimento das especificidades dos sujeitos que constituem a EJA, ao trazer as histórias de vida dos estudantes a partir das quais se entende a contribuição das falas à formação de professores dessa modalidade, marcada frequentemente pelo “não dito” e pela ausência nas propostas curriculares.

O texto “Relações teórico-práticas na formação matemática de professores dos anos iniciais do ensino fundamental: velhos e novos desafios”, de autoria de Antonia Alves Pereira Silva (UESPI) e Maria Isabel Ramalho Ortigão (UERJ), assevera que o documento curricular “reflete uma perspectiva de formação que enfatiza o ensino por competências, pautado na técnica e no conteúdo, comprometendo a ideia de unidade teoria-prática, entendida como práxis social”. Discute a importância da práxis na formação matemática de professores dos anos iniciais, tendo como cenário a Universidade Estadual do Piauí e como objeto o currículo de seu curso de Pedagogia. Ao trazer depoimentos dos estudantes e da professora da disciplina Matemática: Conteúdo e Metodologia, a pesquisa revelou que a formação docente conduzida na perspectiva defendida pelas autoras contribui para a reflexão do ser professor e orienta futuros professores a aprender a pensar criticamente. Estas atitudes se constituem, assim, como desejáveis e imprescindíveis para resistir às “tentativas de esvaziamento da formação docente, seja pela imposição de currículos centralizados e reducionistas, pelo cerceamento da pluralidade e diversidade cultural, seja pela negação da complexidade do processo educacional”.

Flávia Cristina de Macêdo Santana (UEFS), Enio Freire de Paula (IFSP) e Patrícia Sândalo Pereira (UFMS) apresentam o texto “Potencialidades da Resolução CNE/CP 02/2015 frente às (des)construções curriculares para a formação de professores(as) de matemática: insubordinações para re(existir)”. A partir da análise de 172 Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC) de Licenciatura em Matemática (LM) do País, os autores buscaram compreender o percurso formativo delineado pelos PPC, a articulação entre formação inicial e continuada em diferentes espaços formativos, dentre outros aspectos, e concluíram pelas “possibilidades de elaboração de designs formativos insubordinados que contemplem ações associadas aos conhecimentos que futuros professores de matemática necessitam para ensinar, fazendo-se atravessados pela reflexão crítica e comprometida com a democracia, a justiça social, a ética e a solidariedade”. Dentre as possibilidades de resistência abordadas no texto, destacam-se nos cursos de Licenciatura em Matemática experiências de percursos formativos integrados que buscam articular os saberes específicos e os pedagógicos com vínculos dos conhecimentos acadêmicos com os da escola básica; constituir diferentes espaços formativos como lócus de insubordinação na articulação entre a formação inicial e a continuada; promover iniciativas que articulem e discutam a identidade profissional dos(as) futuros(as) professores(as) de Matemática enquanto insubordinação para a resistência, a indissociabilidade da tríade Ensino-Pesquisa-Extensão e a “curricularização” da extensão universitária.

O texto “Um currículo para uma formação, a que será que se destina?”, de autoria de Margareth Sacramento Rotondo (UFJF), Giovani Cammarota (UFJF) e Sônia Maria Clareto (UFJF), problematiza o currículo e a formação de professores, assinalando que “Um currículo para uma formação se produz como experimento e, com ele, um modelo teleológico é assumido como meta a ser a atingida, então, experimentação certa”. Indagações no texto nos levam a refletir sobre encontros, movimentos e travessias: o currículo como experimentação, a formação como invenção.

Maria Celeste Souza de Castro (UNEB; Rede Pública Estado da Bahia), com o texto “A formação inicial de professores que ensinam matemática: desafios e possibilidades pelo caminho da extensão universitária”, aponta, a partir de um estudo de revisão bibliográfica, a potencialidade da extensão universitária na formação inicial de professores de Matemática. As dimensões definidas pela autora para análise – encontro, colaboração e formação – ofereceram pistas sobre como as ações voltadas à extensão universitária ocorrem em diálogo com a escola pública e permitiram identificar seus desafios e possibilidades para a formação inicial de professores que ensinam matemática.

O texto de Wagner Rodrigues Valente (UNIFESP), “Ensino de matemática ou matemática do ensino? (des)construções curriculares para a formação inicial de professores”, propõe aos leitores reflexões

sobre as possibilidades de (des)construção curricular para a formação inicial de professores que ensinam matemática, a partir de resultados de pesquisas históricas. Esses resultados mostram-nos a importância teórica de distinguir “ensino de matemática” e “matemática do ensino”, em termos do ensino e da formação de professores.

Nesse percurso, o autor estimula a reflexão sobre a necessidade de o campo da Educação Matemática promover a sua socialização, a partir da indagação de qual saber se deve levar às escolas, de modo a referenciar o ensino e, ainda, a formação de professores.

Reforçamos aqui o nosso repúdio a iniciativas de reformas autoritárias que desconsideram a existência de pesquisa, práticas e experiências com a formação inicial e continuada de professores no campo da Educação Matemática e a necessidade de todos nós resistirmos insubordinadamente e criativamente na direção de promover um ensino da matemática para todos.

Como enfatizado pelos autores aqui trazidos, esperamos que estes textos despertem a atenção dos responsáveis pela formação de professores, em especial daqueles que ensinam matemática, para que possamos resistir, (re)existir e insistir na defesa de nossas experiências com a formação de professores, construída pelo conjunto de pesquisadores em Educação Matemática.



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